sexta-feira, janeiro 19, 2007

O esquecido





Os primeiros dias de governo são ilustrativos, lembro de uma história verdadeira ocorrida em um município da região metropolitana que ilustra bem como as são ou como vão ficando.

Secretário novo e cheio de vontade veio de outra cidade, era um estrangeiro. Olhar desconfiado por todos os lados, as congecturas eram variadas e cada um teria um nome nativo que seria mais apropriado ou mais forte politicamente. Nem havia iniciado e as intrigas já campeavam livres, mal sabia o incauto.

A secretaria estava um desastre, a sucessão foi ridícula. Era como se uma nuvem de gafanhotos tivesse passado pela administração pública e deixasse apenas os galhos sem nenhuma folha pra contar causo. Era desolador. Carro parado por falta de óleo, a oficina cheia de sucata, três máquinas de escrever estragadas e nenhum papel, absolutamente nada de documentos. A secretaria era um vazio.

Uma das medidas iniciais foi recolher os cartões ponto do pessoal após o horário e verificar como era a rotina de trabalho e se havia algo errado.

Um fato chamou a atenção, um senhor bastante idoso todos os dias pela manhã batia seu cartão e saía porta a fora sem falar com ninguém, ao final da tarde retornava e batia novamente. O cartão dele era o único sem o intervalo do meio dia. O secretário chama a chefe do administrativo, que cheirava como se tivesse tomado perfume, pedindo explicações sobre o caso. Era um acerto do último secretário.

Revogado o acerto, foi determinado que o cidadão viesse ter com o secretário, o servidor mal conseguia caminhar, bastante idoso, tinha sérios problemas de saúde, além disto era viúvo e tinha duas filhas excepcionais que só tinham ele para cuida-las. Era um caso e tanto. Ele havia encaminhado aposentadoria e não havia retorno até o momento.

Apesar da situação complicada, o secretário sentenciou que ninguém poderia bater o ponto e sair, embora logicamente o idoso não poderia trabalhar no pesado, acertou-se que ele ficaria sentado o dia todo na secretaria até que se verificasse sua aposentadoria.

Surpresa! Descobriu-se uma semana após, que o ancião estava aposentado havia 3 anos, bastando apenas que se apresentasse ao INSS! Haviam esquecido de avisar ao servidor que tomasse as providências, simplesmente ninguém verificou que ele continuava trabalhando. O idoso chorou quando soube da sua aposentadoria e nem se deu conta da violência a que foi submetido por três longos anos em que ele teve de sair de casa todos os dias para se apresentar sem necessidade!

O corrupto e incompetente provoca mais danos do que aparece normalmente, atos bufos e intempestivos que enchem manchetes não governam o estado, a realidade do dia-a-dia nestes casos deve ser semelhante ao que provocou a caso do senhor idoso.





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