terça-feira, setembro 18, 2007

Cebola Boliviana


Instabilidade política, cebolas e milhos

Há mais de dez anos percorri de ônibus o interior da Bolívia em uma viagem típica de jovens. Daquelas viagens maravilhosas, mas que depois de uma certa idade nunca mais a gente faz. A Bolívia possui poucas estradas e restam trilhas que permitem uma velocidade média de 10 km/h e tornando a distância entre duas cidades uma eternidade. Dezoito, trinta hora para percorrer 250 km.
Nesta ocasião fiquei alguns dias em Potosí, uma grande cidade para os padrões bolivianos, de lá saiu grande parte da prata circulante no planeta desde os espanhóis, além de outros minérios menos valorosos. Chega a ser ridículo, como um país tão rico e que gerou tanta riqueza há séculos seja o mais pobre da américa latina. Todos os minérios explorados em Potosí têm a mesma origem, uma montanha avistada em qualquer lugar da cidade e chamada de Cerro Rico, claro. As minas foram estatizadas e são exploradas por mineiros coperativados e autônomos, o tempo da prata já passou há séculos e o ouro já não é ncontrado como dantes, mas manganês e lítio são mais intensamente explorados.
A montanha mais parece uma cornucópia que não para de fornecer minérios e sustento a uma multidão de mineiros que transformam a mina num verdadeiro formigueiro humano. Ao redor das centenas de entradas das minas da montanha existem tendas e ambulantes operados por mulheres (proibidas de minerar por serem portadoras de má sorte...), muitas esposas e filhas de mineiros. Nestes quiosques improvisados se venda de tudo. Ali comprei folhas de coca para presentear aos mineiros que me guiaram por dentro da mina e também dinamite.
A dinamite e as folhas de coca são comercializadas livremente sem qualquer fiscalização e pode ser adquirida inclusive por crianças, sem stress. Explodi algumas bananas só por diversão e atesto que o efeito é bem mais potento do que se pode imaginar.
Na saída da mina tomei coragem e fiz um lanche antes de descer do Cerro Rico. Uma menina vendia o que chamava de sanduíche, um pão de trigo argentino da melhor qualidade que cortado ao meio, era preenchido com muita cebola vermelha e um ovo frito. Assim, sem manteiga, margarina ou maionese. No seco. Aquela cebola toda, e era muita mesmo, me preocupou. Adoro cebola, mas o bafo é de matar a visinhança. Surpresa, aquela qualidade de cebola vermelha da Bolívia tinha um gosto tradicional , mas não deixava nem o gosto residual na boca e nem o bafo de tigre louco após sua digestão! Santa cebola, e inexplorada.
Lá na Bolívia são cultivadas mais de 200 tipos de batatas das mais variadas cores e sabores e os milhos silvestres são coloridíssimos e variam muito de tamanho e usos. É uma fartura impressionante, mesmo sendo um pais que mais da metade de seu território é desértico. É a fartura na miséria de um país de capitalismo quilômetros mais periférico do que o nosso.
A Bolívia é o país onde se consegue comer cebola e namorar, viva!


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