quinta-feira, março 25, 2010

Até eles reclamam

Em Defesa da Classe Média - O Fim da Classe Média - Stephen Kanitz
Que eu saiba, nenhum jornal brasileiro defende a ideologia da classe média, justamente seus leitores. Não há um jornal liberal, que defenda os valores típicos da classe média. Por isto, a classe média está deixando de renovar suas assinaturas de jornais e revistas, onde o editorial normalmente defende os valores da direita, o resto do jornal defende os valores da esquerda.

A circulação de jornais e revistas tem caído quase 20% nestes últimos anos, justamente porque a classe média cansou de comprar jornais que não defendem os seus pontos de vista, somente os daqueles que querem a sua destruição.
Ler isto alenta meu coração. As esquerdas se queixam da falta de imparcialidade da grande imprensa brasileira, golpista e elitizada. Ao ler Kanitz me dou conta que ele também tem razão, não somos apenas nós que não nos enxergamos ou identificamos na imprensa brasileira, mas também a pequena burguesia e a classe média intelectualizada.
A razão disto é a elitização da imprensa e sua radicalidade de direita, sua parcialidade e baixa autocrítica. Estão perdendo leitores porque as pessoas não se identificam com o a geande imprensa escreve, não lhes diz respeito. Não há identidade do leitor com a leitura, portanto ler passa a ser um martírio, um exercíco inglório, uma masturbação sem sentido ou justificativa.
A internet, os blogs e os sites de relacionamento tem sido a válvula de escape. Espaços de liberdade e de mútua identificação, de padronização intelectual onde as pessoas se associam por vínculos reais de vontade e congraçamento. A grande imprensa ainda não percebeu o que está acontecendo no Brasil.
Já relatei aqui antes. No Egito e na Bolívia existem dezenas de jornais dos mais variados matizes e opiniões, só para citar dois exemplos um em país democrático e outro numa ditadura de partido único. O Brasil possui pouco mais de cinco jornais nacionais, TODOS iguais, com a mesma pauta, mesma opinião. Por isto perdem leitores, no caso do Grupo RBS a coisa é em maior grau ainda que a média nacional.


Powered by ScribeFire.

Um comentário:

Luís disse...

Nos países do primeiro-mundo, operário é classe-média... e aqui?! Classe-média tem pensamento tão coletivo assim...?!
Bem, discussões sociológicas mais profundas à parte, acho difícil para uma VEJA "tocar" um operário, que tem outras realidades muito mais presentes; já, quanto a tocar o engenheiro que pode ser o chefe do operário... aí a VEJA funciona.

É justamente para impor um padrão político para a classe-média, que a imprensa age... quanto ao "povão", basta assustar, que o "doutor" esclarece depois... é bem isto. (Estamos falando de imprensa, claro, porque o dinheiro continua funcionando muito bem no nosso joguinho eleitoral, dentre outros estratagemas)

O que na verdade me parece estar muito mais em crise é o regime neo-liberal, que, longe de estar morto, perdeu o protagonismo político, mas é o que a direita tem ainda para defender e preconizar.
Eu conheço muitos - dessa famosa classe-média - que estão totalmente perdidos, porque se desiludiram com FHCs e Yedas e não tem coragem de se voltar para outros lados, já que "todos são iguais"... essa mentalidade também está por trás do reacionarismo gaúcho.
Não estou discordando do artigo, enfim, mas tentando deixar claro que a "crise", na verdade, é a de um discurso mais amplo que atraia, e a "falta de sensibilidade" da imprensa é consequência.