terça-feira, novembro 02, 2010

Minha excomunhão, por favor!


Tentou conduzir seu rebanho e perdeu junto com Serra, toma!

Opera Mundi
Prezada autoridade papal,
Eu, Maíra Kubík Mano, cidadã brasileira, 28 anos, venho, por meio desta, solicitar à Igreja Católica Apostólica Romana minha excomunhão.
Fui batizada involuntariamente, quando tinha poucos meses de vida, pelos meus pais. Eles nada mais fizeram do que seguir a tradição de seus antepassados e não pretendo nem vou responsabilizá-los por isso.
Contudo, aos 9 anos, fui de livre e espontânea vontade tomar a comunhão (Eucaristia). Fiz o curso necessário para tanto na Igreja Nossa Senhora do Brasil, em São Paulo, SP, Brasil. Durante nove meses, aprendi os preceitos católicos e estudei passagens bíblicas. Em seguida, participei da cerimônia em que recebi, pela primeira vez, a hóstia, ou o corpo de Cristo.
Desde então, fui à missa poucas vezes e, com o passar do tempo, identifiquei-me cada vez menos com a doutrina católica. Ou, melhor dizendo, com aquela pregada diretamente pelo Vaticano.
É preciso aqui fazer uns parênteses para afirmar que tenho, isso sim, laços fortes com a chamada Teologia da Libertação, que inundou de solidariedade e compromissos sociais os rincões do Brasil na segunda metade do século XX. Mas com esse grupo, imagino, você não está preocupado. Conseguiu isolá-lo, desautorizá-lo, diminuí-lo. Porém, quero registrar aqui que não foi possível enterrá-lo. O exemplo de sua força segue vivo com D. Pedro Casaldáliga, Dom Tomás Balduíno e tantos outros.
De qualquer forma, cheguei à conclusão de que tenho um desacordo absoluto e completo com Sua Santidade, sem possibilidade de repactuação. Entre os pontos mais prementes sobre os quais temos visões diametralmente opostas estão legalização do aborto, casamento gay e utilização de preservativos durante o ato sexual. Isso só para começar a conversa. Poderia discorrer páginas e mais páginas sobre o lugar subalterno e humilhante que vocês têm reservado às mulheres durante séculos a fio.
A gota d’água que me levou a redigir essa carta foi a ordem de Vossa Senhoria para que os pastores orientassem politicamente seus fiéis com base em preceitos morais, tendo em vista a eleição para a Presidência da República que ocorre no próximo domingo (31/10/2010). Bem, para mim o único preceito válido é o do Estado laico e considero um absurdo completo a Igreja se pronunciar sobre isso. Religião e governo misturados é uma fórmula maléfica, que prejudica as liberdades individuais e coletivas e só semeia o autoritarismo doutrinário.
E, como se tudo isso não fosse suficiente, atualmente eu me defino como atéia.
Sendo assim, peço que Sua Santidade seja sensível e caridosa o bastante para compreender que eu não quero mais ser considerada uma parte deste rebanho. Nem oficialmente, nem extra-oficialmente. Me conceda a excomunhão.

Obrigada desde já,

Maíra Kubík Mano


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3 comentários:

Ana disse...

Querida Maíra,

pelo seu relato você já estava excomungada há alguns anos. Não precisa mais se preocupar nem importunar Sua Santidade com isso, ok?

Esperamos sua volta.

Um abraço,
Ana

Azarias disse...

Inumeras crianças estadunidenses, irlandesas, inglesas e de outros países europeus, quiçá da Africa, América Latina e Asia, não tiveram a mesma sorte que tiveste Maíra.
Ainda bem que não conviveste mais intimamente com estes pastores.

Imóveis à venda disse...

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