PALANQUE DO BLACKÃO
Um subúrbio de Montevidéu no final de 1982. Presa há mais de um ano, Alma Di Agosto confessou ter assassinado duas mulheres. Seguindo os costumes, os policiais a tinham violado e torturado. Em cada confissão, havia personagens diferentes, fantasmas pitorescos sem nome e domicílio, porque a máquina de dar choques transforma qualquer um num ficcionista. Em cada crime, a autora parecia ter a agilidade de uma atleta olímpica, os músculos de uma forçuda de parque de diversões e a destreza de uma matadora profissional.
Mas o que mais surpreendia nos autos é que Alma Di Agosto descrevia com uma precisão milimétrica roupas, gestos, cenários, situações e objetos.
Alma Di Agosto era cega. Seus vizinhos, que a conheciam e gostavam dela, estavam convencidos de que era a culpada.
“Por quê?”, perguntou o advogado.
- Porque os jornais dizem.
“Mas os jornais mentem”, disse o advogado.
- Mas o rádio também diz”, explicaram os vizinhos. “E a televisão também”.
Eduardo Galeano
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Um comentário:
olá, agente 65. cheguei ao seu blog procurando no google um texto que li em "o livro dos abraços", de eduardo galeano. um livro perfeito, por sinal, hehe. :) estava querendo mostrar a um amigo como a imprensa tem influência sobre as pessoas e falei desse texto e sua página foi uma das primeiras que apareceu. ;)
ah, mas pq eu tou te contando se vc tem um 'live traffic feed' na sua página?? rs.
então, vou dar uma olhada nas outras páginas. mas pelo menos por essa, o blog já me cativou.
até mais.
abraços.
tatyana frança.
fortaleza, ceará.
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