segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A verdade midiática



PALANQUE DO BLACKÃO
Um subúrbio de Montevidéu no final de 1982. Presa há mais de um ano, Alma Di Agosto confessou ter assassinado duas mulheres. Seguindo os costumes, os policiais a tinham violado e torturado. Em cada confissão, havia personagens diferentes, fantasmas pitorescos sem nome e domicílio, porque a máquina de dar choques transforma qualquer um num ficcionista. Em cada crime, a autora parecia ter a agilidade de uma atleta olímpica, os músculos de uma forçuda de parque de diversões e a destreza de uma matadora profissional.

Mas o que mais surpreendia nos autos é que Alma Di Agosto descrevia com uma precisão milimétrica roupas, gestos, cenários, situações e objetos.

Alma Di Agosto era cega. Seus vizinhos, que a conheciam e gostavam dela, estavam convencidos de que era a culpada.

“Por quê?”, perguntou o advogado.

- Porque os jornais dizem.

“Mas os jornais mentem”, disse o advogado.

- Mas o rádio também diz”, explicaram os vizinhos. “E a televisão também”.

Eduardo Galeano


Powered by ScribeFire.

Um comentário:

Tatyana França disse...

olá, agente 65. cheguei ao seu blog procurando no google um texto que li em "o livro dos abraços", de eduardo galeano. um livro perfeito, por sinal, hehe. :) estava querendo mostrar a um amigo como a imprensa tem influência sobre as pessoas e falei desse texto e sua página foi uma das primeiras que apareceu. ;)
ah, mas pq eu tou te contando se vc tem um 'live traffic feed' na sua página?? rs.
então, vou dar uma olhada nas outras páginas. mas pelo menos por essa, o blog já me cativou.
até mais.
abraços.
tatyana frança.
fortaleza, ceará.