sábado, agosto 07, 2010

Jornais gaúchos

Jornal, UTI sem volta

 

Tenho o hábito de ler jornais desde criança. Lembro do meu pai com o antigo Correio do Povo tamanho standard que vinha todos os dias em um grosso masso de cadernos forrado de muita coisa pra ler. Aos domingos passávamos o dia tentando resolver as intrincadas e difíceis palavras cruzadas pesquisando em dicionários e enciclopédias, as tirinhas do Recruta Zero e tantas outras. Ler jornal pra mim ficou como uma necessidade de vida, fica faltando algo se não passo os olhos num jornal. O cheiro de tinta fresca, os dedos enegrecidos, as alegrias e decepções do futebol, que coisa boa.

Outro hábito que tenho é de viajar. Sempre que viajo presto a atenção aos jornais nas bancas nos diferentes países que já estive.Desenvolvidos ou miseráveis, nas bancas se aprende alguma coisa sobre aquele povo. as diferentes nuances de cada noticiário de um jonal à outro, mais conservador ou mais liberal, espalhafatoso, colorido ou fútil, há de tudo. Reparo e comparo com nossa realidade brasileira e gaúcha, já pautei istoaqui no Agente algumas vezes.

Na Bolívia, existem jornais locais e nacionais com maior diversidade de opinião que no Brasil. Há jornais de direita e jornais bem populares com razoável tiragem se compararmos com os altos índices de analfabetismo daquele país. No Egito existe uma infinidade de jornais que são oferecidos empilhados no chão sobre uma lona preta. Este país árabe não vive uma democracia, o regime é fechado com praticamente um só partido e os editores são indicados pelo governo. Isto não impede uma miríade de distintos jornais (provavelmente com a mesma opinião, vai saber). Na Europa os jornais tem linhas ideológicas para todos os matizes políticos, todos tem um viés e este é publicamente declarado. Os jornais europeus são claramente formadores de opinião. Nos EUA e Grã-Bretanha vale o jornalismo hipócrita que se baseia na isenção declarada e no vínculo velado ao sistema.

Aqui no Brasil existem poucos jornais. Nós estamos na posição 101 em todos os países do mundo, relacionando população com venda de jornais. A Turquia está na posição 52 e Cuba na de número 40. Não lemos jornais, assim como não lemos livros. O brasileiro basicamente assite TV e navega na internet dependendo de sua classe social. Isto explica o poder fantástico que a mídia exerce na nossa vida e sua influência política ao longo da história.

A leitura é um hábito de casa, de exemplo e oportunidade. A leitura permite identificação do leitor com a arte, faz a pessoa entender os outros, ser tolerante, de perceber como os outros pensam. Entender o outro significa reconhecê-lo como um igual. Outro benefício é encontrar similaridades entre os nossos sentimentos mais profundos e íntimos com outros, a identificação pessoal se percebendo dentro de um coletivo de pensamentos semelhantes. A escola poderia suprir o exemplo que nãoocorre dentro de casa. Em geral isto não acontece e a escola assuta a criança, afastando ela dos livros.

Fui obrigado a ler José de Alencar no colégio. Tinha uns 14 anos, li Iracema obrigado pela professora de Português que usava laquê para ter cabelos parecidos com as atrizes americanas dos seriados da TV. Eu lia páginas e páginas sem entender palavrado que estava escrito, poderia estar escrito em outro idioma, não fazia diferença. Diziam ser um clássico, eu imaginaa se todos os livros fossem tão chatos e tediantes como aquele. Por teimosia minha ainda busquei outros livros e descobri que errada era a megera que tinha me obrigado a ler livros horrorosos para um adolescente. Porque fazem isto? Se oobjetivo era que figíssemos dos livros, quase deu certo comigo.

Quem não lê, não critica. Quem não critica apenas gosta ou não gosta, não percebe as sutilezas do mundo e das pessoas. Estamos num mundo que tem pressa, escrever se reduz a 144 caracteres com uma singular criptografia onde os sentimentos são sublimados e tudo muito impactante. Interessante os tempos que vivemos, vamos assitir a morte dos livros como os conhecemos hoje, qual será a nova síntese? o Admirável Mundo Novo? Castas dirigentes e a plebe rude? Vê? Por isto sou inconformado!

2 comentários:

Remindo disse...

Caro agente

Ruins tempos aqueles do Correio. Bom é hoje com a internet. Não me lembro do Recruta Zero no Correião, a única tira de quadrinhos era a do Fantasma. Conheci um um cara em Passo Fundo que colava uma tirinha na outra e ia enrolando, dava a impressão de uma tira sem fim.
Ainda hoje tem muito intelectual, e outros nem tanto, que continuam achando Machado de Assis o máximo.

claudia cardoso disse...

Depende da sensibilidade de cada um: gostava de ler José de Alencar e Machado de Assis na adolescência. Aliás, foi o que mais li espontaneamente no ensino médio [magistério no Instituto de Educação]! O que me causou espanto, na época, foi Macunaíma: uma brincadeira do autor pra tentar fazer algum intelectual sentir-se inteligente! :-)
Talvez, hoje, eu tenha outros olhos para o texto de Mário de Andrade, mas, numa coisa, concordo com vcs: quando a gente pega nojo, difícil voltar atrás... ahahahahah...