terça-feira, janeiro 05, 2010

Lula no Le Monde, mas não na Globo

Observatório da Imprensa - Por Venício A. de Lima
Qualquer lista séria dos principais jornais do mundo incluirá o Le Monde. Fundado pelo general Charles de Gaulle (1890-1970), em dezembro de 1944, era parte do programa maior de libertação da França que se seguiu ao fim da ocupação nazista na Segunda Grande Guerra. Dirigido ao longo de 25 anos por um membro da Resistência e respeitado intelectual – Hubert Beuve-Méry (1902-1989) –, o Le Monde consolidou sua posição de "independência" com as denúncias de tortura perpetradas pelo exército francês na Argélia, convencendo seus leitores de que a guerra colonial "não era apenas uma questão política, mas era também moral". Tornou-se, desde então, uma referência na e da França.

Depois de 65 anos de existência, o Le Monde decidiu eleger, pela primeira vez, um personagem do ano em 2009. E essa escolha recaiu sobre o presidente Lula. O tema mereceu a primeira página do jornal francês na edição de 24 de dezembro, mais capa e longa matéria na sua revista semanal.

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E o Jornal Nacional da Rede Globo, o telejornal de maior audiência do país, editado e apresentado pelo jornalista que, segundo pesquisa da Datafolha, é a personalidade que recebe da nossa população a segunda maior nota na escala de "confiabilidade" entre todos os brasileiros?

Qual seria a justificativa editorial do JN para, ao contrário dos outros telejornais brasileiros, sonegar de seus muitos milhões de telespectadores essa informação?

Seria pedagógico conhecer essas razões, já que o JN considera – e anuncia, inclusive, nas universidades brasileiras – que pratica o paradigma do "bom jornalismo", a ser seguido por todos nós.

Seria, sobretudo, pedagógico discutir o critério jornalístico do JN à luz do direito à informação do telespectador. Esse direito tem sido veementemente evocado e defendido, não pelo seu sujeito, o cidadão, mas por grupos de mídia concessionários do serviço público de radiodifusão na permanente e incansável campanha que movem contra as "ameaças" de censura advindas do que consideram um Estado autoritário, incluindo decisões judiciais.

Seria a censura – partindo de onde? – uma possível justificativa para a omissão do JN, inexplicável do ponto de vista jornalístico?

Até que as razões sejam tornadas públicas, o telespectador do JN terá que se contentar com esse "presente de Natal" às avessas, no 24 de dezembro de 2009: omitir e esconder uma informação à qual ele – o telespectador – tem direito.

Para o JN, a escolha de um presidente brasileiro como "Homem do Ano" pelo Le Monde não é notícia. O assunto simplesmente não entrou na pauta do telejornal (ver aqui).






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